terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Um choro entalado


Eu sempre soube que a região onde moro não é das mais tranquilas da cidade. Sei também que hoje isso não é uma exclusividade desta ou daquela região, há violência em qualquer lugar.

Ocorre que nas últimas semanas, infelizmente, fiquei sabendo de mortes de pessoas que conheci, convivi e acreditei que podiam ter uma vida diferente. Principalmente um deles...

É estranho o sentimento que descreve esse momento!
Não sei explicar...

É verdade que há tempos não tinha notícias dele. Fizemos escolhas que nos levaram por caminhos diferentes e isso nos afastou. Mas ainda assim não consegui ser indiferente a esse fato.

Não consegui ficar indiferente ao choro e ao coração dessas mães, avós e daquelas “tias da galera” que insistem em chamar a piazada na praça pra jogar futebol, fazer campeonato e ocupar o dia deles com qualquer outra oportunidade que não seja a rua e as ofertas dela.

Alguns podem pensar que não sei do que estou falando, porque ao contrário da minha irmã que ia até onde fosse preciso pra alcançar essa piazada, sem preconceito, sem medo, enquadrava qualquer um e obtinha o respeito deles, eu apenas observava e estava por perto quando ela me pedisse.

Mas a observação me deu oportunidades importantes também. Conheci corações sinceros que desejavam apenas uma chance. Alguém que os enxergasse como a minha irmã e alguns outros fizeram.

Estou certa de que o investimento dessas mães, avós, tias, pastores e amigos não foram em vão.
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Alguns diriam que a morte desses jovens é culpa da sociedade. Outros culpariam o governo. Outros a família e ainda outros culpariam os próprios jovens. No entanto, meu objetivo com esse texto não é procurar culpados. Até porque todos nós somos frutos da nossa história até aqui, com erros e acertos, boas e más influências.

O que me incomoda é o fato de não conseguirmos chorar com os que choram. Não conseguimos clamar por essas vidas como clamamos (e posso falar disso por ter histórias semelhantes na minha família) por nossos parentes.

Com o argumento de que “ele escolheu esse caminho” ou de que “não há muito o que fazer agora, ele já é um adolescente”, cruzamos os braços e deixamos que um a um sejam ceifados.

Por que nos colocamos como juízes sobre eles e determinamos que por escolherem caminhos escusos mereciam a morte?

Por que se sendo nós pecadores e igualmente merecedores do juízo de Deus fomos alvo de misericórdia, não conseguimos clamar pela salvação desses jovens?

Por que tudo o que conseguimos fazer é debater se o certo é prender alguém com 18, 16 ou que não haja limite de idade para que alguém seja preso? Por que não vamos além disso?

(Apenas pra esclarecer, o ponto aqui não é a isenção de punição para atos considerados crimes em nossa legislação. Todos devem responder por aquilo que praticarem. O alvo é algo maior, eterno. O alvo é onde esses jovens passarão a eternidade.)

Por que não nos colocamos de joelhos e clamamos por essa geração?

Muitos tem se perdido em meio às drogas, a violência, a depressão. Muitas mães têm enterrado seus filhos, e, como disse minha vó certa vez em um velório que fomos, “isso não está certo! Uma mãe nunca deveria ter que enterrar um filho”.

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Existe um clamor no coração de Deus! Um clamor por esses que Ele tanto ama e que tem se perdido sem ter tempo de conhecê-lo ou mesmo tempo de se arrepender, como nós tantas vezes fizemos e ainda temos que fazer.
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Seria possível diante de um cenário cada vez pior que uma geração se levantasse pra clamar pra que esses índices diminuíssem? Seria possível vermos essa violência diminuindo?

“Não seja tola, Caro... a bíblia mesmo diz que as coisas ficariam cada vez piores...”

Sim, mas ela também diz que Ele não veio para os sãos, mas para os doentes (Mateus 9:12 ). Antes, veio salvar o que estava perdido e Ele não deseja que nenhum destes se perca (Mateus 18:14). Diz também que devemos amar ao Senhor de todo o nosso coração e ao nosso próximo como a nós mesmos (Mateus 22:37-39).

Se clamamos por nossas vidas, precisamos clamar por cada um deles também.

Assim, enquanto houver vida, enquanto houver fé, cabe a nós clamar e agir em favor destes pequeninos.
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Peço que orem por essas famílias! Alguns dos jovens que citei morreram por escolherem caminhos escusos. Outros dois levavam uma vida normal. Não haviam feito nada de errado, apenas estavam no local errado quando o “alvo” foi encontrado.
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 Eu sei que é difícil orar por situações como essas principalmente quando se é vítima desses jovens. Por melhores pessoas que tentemos ser, em nosso coração, por vezes, nasce um desejo de vingança, mas te convido a experimentar algo que eu não sei mensurar com palavras: orar pelos que os maltratam e os perseguem (Mateus 5:44).

Essa oração foi uma das experiências mais loucas que já tive. A violência sofrida não gerou morte, graças a Deus, mas gerou e ainda gera tamanho desgaste que eu verdadeiramente desejei a morte das pessoas envolvidas.

Ver pessoas que amamos sofrendo, nervosas e exaustas é desesperador. Em mim não havia capacidade pra olhar pras circunstâncias e achar graça e misericórdia, mas por alguma razão Ele me lembrou que havia uma oração a ser feita. Havia algo que eu desconhecia.

Quando dei por mim, lá estava eu, orando e clamando pra que Deus tivesse misericórdia daqueles que nos provocaram tanto mal. Ele me fez enxergar a vida que carecia de salvação. Me fez entender que havia alguém perdido em meio a escolhas erradas. Me fez interceder pra que ele tivesse outra chance diante de Deus e dos homens.

Não amo essa pessoa pela qual orei, mas ainda desejo viver o restante do versículo que citei (Mateus 5:44).

Vivenciar tal coisa me revelou uma parte do coração de Deus que eu ainda não conhecia. Uma parte que só aparece depois do “negue-se a si mesmo”.
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Te convido a "desengasgar" e chorar com os que choram.

Ore, apoie, faça algo! Se conseguirmos ajudar um, por amor desse um já terá valido a pena.

Ele se importa e deseja que também nos importemos!

Deus te abençoe! ;)




2 comentários:

Tita Maria [Deunisio] disse...

Eu quero desengasgar!

"Não perca tempo perguntado-se se você 'ama' o próximo ou não; aja como se amasse".
C.S. Lewis

Lenara disse...

Amém amiga! Que a gente não espere sentir algo para que então as coisas comecem a mudar! Mas que, assim como Jesus, a gente possa pedir em oração pelas vidas que ainda não amamos, quer a gente sinta vontade ou não, quer a gente ame ou não, quer a gente julgue a pessoa merecedora ou não... O choro vem de dentro, e se a oração pode converter trevas em luz, ela tmb pode transformar indiferença em compaixão! #EuCreio #EuQueroDesengasgarTambém <3