quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Sou ingrata


Quem é velho na igreja conhece... Canta comigo!

“Eu reclamo por tudo o que não tenho
Dos amigos, família e dos meus irmãos
Do salário, de janeiro a janeiro
Isso tudo pra não falar da comissããããããão

Refrão: iê iêêê... iêooooua...

Reclamarei do Senhor em todo tempo
O rancor estará continuamente
Em meus olhos e também na murmuração
Jesus Cristo, reconheça a minha afliçãããããão...”

É eu também prefiro a letra do Adhemar de Campos...rsrsrs Além de rimar melhor, fala do que deveria ser a nossa vida. Já a minha paródia fala muitas vezes do que é a nossa vida. Acredite, Deus usou isso pra falar comigo!
Essa semana Deus tem falado comigo sobre ser grata e me convidado a observar minha vida. Cara, fiquei impressionada com a minha capacidade de reclamar de tudo. Não chego a ser um Lippy e Hardy, que fica o dia todo falando “oh céus, oh vida... oh azar”, mas me assustei com a rapidez com que identifico e comento sobre o que está dando errado.
Se está calor, se está frio, se não tenho nada pra fazer, se tenho tudo e mais um pouco, (acrescente aqui tudo o que veio a sua mente sobre isso), etc.

Senti muita vergonha! Não curto “reclamões” e “reclamonas” e agora a reclamação em pessoa me encontrava no espelho na hora de escovar os dentes.

Um dos textos que Ele usou foi Filipenses 4:12–13 (NVI): “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece.”

Fiquei pensando sobre o que seria esse segredo que Paulo citava. Sim, eu já li esse texto inúmeras vezes e também já ouvi diversas ministrações a respeito, mas tenho tentado experimentar a palavra viva e eficaz (Hb 4:12) no meu dia a dia.
Se é um segredo, significa que a maior parte das pessoas não descobriu do que se trata.
Paulo não apenas sabia que o certo era focar o Cristo, mas ele de fato vivia isso. Não era teoria, mas uma realidade na vida dele. Viver a vida de Cristo em nós é o segredo! Mas quem consegue?
Você não consegue, mas não se menospreze a capacidade não vem de você. O mesmo Deus que trabalhou no caráter de Paulo, é imutável e plenamente capaz de transformar cada um de nós, mas pra isso é preciso que em nós haja o mesmo desejo de transformação que existia em Paulo.
Outro segredo é observar a realidade ao redor. Você vai se surpreender com o que vai encontrar ao tirar o foco do seu umbigo e olhar pras dificuldades alheias. Aprendo muito sobre isso no Sopão. Aquelas pessoas sabem encontrar motivos pra sorrir mesmo que pra isso tenham que transpor barreiras muito maiores do que as minhas.

Eu não poderia deixar de citar a questão da reclamação na perspectiva do viver em Igreja. Pense numa pessoa que já foi extremamente crítica neste sentido?! Sou eu.
Sou grata pela vida do meu antigo pastor que com muito amor e paciência ouvia todos os meus apontamentos e depois dizia: Vamos orar. E aí deixava Deus fazer o trabalho de convencimento comigo. Ele não precisava se defender. Nem mesmo Jesus precisava, mas mesmo assim, com amor tirava a trave do meu olho e me ajudava a perceber que o problema estava em quem enxergava e não para onde olhava.
Quantos de nós ao invés de aproveitarmos a doce presença do Senhor, ficamos reparando nas pessoas, no “roteiro” do culto ou da pregação, ou olhando a grama do vizinho e dizendo “lá tem mais liberdade, aqui só me julgam”, ou “se tivéssemos o grupo de louvor de tal igreja, as coisas seriam diferentes”...
Acho que se tivéssemos uma conversa de 5 minutos com algum cristão que vive em um país onde a perseguição não é apenas história, mas realidade, finalmente entenderíamos o tamanho do nosso privilégio. Aliás, “privilegiados” é o termo que eles mesmos usam pra se descrever por poderem ser perseguidos por amor a Cristo.

Em certa conversa com uma amiga que foi ao Haiti, que vivia um cenário pós-catástrofes e eminência constante de guerra civil, lembro como ela descrevia o quanto aquela experiência havia impactado sua vida. Os cristãos daquele lugar viajavam a pé por horas pra chegar aos cultos, ficar ali por pouco tempo e depois fazer todo o trajeto de volta. A maioria tinha ficado órfão ou perdido toda a família. Não tinham emprego, nem qualquer outro bem, mas isso não os impedia. O lugar era pequeno, muitos deles precisavam ficar atrás de pilastras e não enxergavam nada do que acontecia no “púlpito”, mas o simples fato de poder prestar louvores a Deus e ouvir Sua palavra, os fazia cantar empolgados e não trocar aquele pedacinho de chão por nada. O calor era insuportável e por isso os cultos precisavam começar cedo para não prejudicar ninguém. Não havia estrutura física, nem instrumentos de qualidade. Ar condicionado? Esqueça! Mas a presença de Deus era quase palpável.
Será mesmo que tudo o que apontamos de defeito na Igreja é suficiente para nos impedir de cultuá-lo?

Esse texto não é um convite ao conformismo ou para que você viva a utopia de um mundo perfeito, pois voltando a Paulo, ele não ignorava as circunstâncias, mas aprendeu a olhar acima delas.
Também não é um discurso de quem já está conseguindo viver plenamente essa palavra, mas de alguém que aceitou tirar a trave do olho, reconheceu seu pecado e tem tentado ser grata em todo tempo.

Tente!


Abraços e que Deus os abençoe.